Muita realidade mais profunda há de existir! Tragédia no Rio afetando o país, ex-governador solto (e o Brasil indo como sempre: zero punição aos políticos!); falta de emprego e iminente falta de grana à vista; lei da Ficha Limpa (ou seria Ficha Suja?); sem contar as inúmeras notícias ruins que tomam conta da sala cada vez que liga a TV. Nada passa em branco! Apesar de passar dias sem saber como anda a rua, nem quem por ela anda; como andam o tempo o sol o dia a noite; ela se afeta!, se sensibiliza! "Tenho uma enorme precisão no sentir. É de longe o que faço melhor." Ela até chora! (e chora tanto!).
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Ahh, mas hoje... os óculos caíram e se entortaram e não param direito na cara, a cerveja gelada não estava na geladeira, o samba não rolou, eles não ligaram, a amiga parceira arranjou um namorado, o pai demorou a chegar. Mas chegou, enfim. E entre o sono e a sede que a boca seca traz, uma notícia ruim da porra! Hoje, para ela, pior do que muita que se noticia na porra da TV. Hoje, para ela, é impossível transcender suas familiares misérias cotidianas. E, como não poderia deixar de ser (ah, não?!), abateu-se com o som melancólico e deixou-se deprimir. E como soubesse da realidade mais profunda que há de existir, pensou literatura: "O que mais me dilacera é saber que minha depressão não provém de nenhuma angústia profunda, é pura superfície relacionada a coisas superficiais."
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E assim, hoje, para ela, "não havia nada que desejasse mais naquele dia de feridas abertas do que a possibilidade de uma paixão. Qualquer uma."
Trechos de Aos Meus Amigos, De Maria Adelaide Amaral
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